sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Gilbert Chaudanne na FAFI


ARTE TERAPIA OU ARTE LOUCURA?

O que eu quero mostrar nessa palestra é que nossas concepções sobre a função social, psicológica, metafísica da arte é baseada num malentendido.

O malentendido mais grave é o de achar que a arte é subjetiva. Não! A arte é tão objetiva como uma ciência. Porque a arte toca o Ser e como tal adquire um brilho que só o ouro e o rei têm.

Achar que a arte é terapia pode ser uma bela armadilha. Ela, em certos casos, pode até ser isso, mas em outros casos no lugar de "curar", ela pode aumentar o desequilíbrio mental porque há na arte um lado entorpecente que é a busca de um absoluto. Toda arte quer o absoluto. Todo quadro quer ser o quadro de todos os quadros. E assim há como um deslise perigoso do sujeito-artista que é capaz de pagar com sua razão (ele se torna louco nessa busca do Ser Absoluto).

Pintar um bule parece uma ocupação inocente, mas não é: daí o conceito perigoso da "arte-terapia", mas a prática da arte tem algo quase criminoso; o sujeito-artista comete uma espécie de suicídio para alcançar o Ser, o quadro absoluto.

A história de vida de Van Gogh é mais que sintomática. É a prova desse absoluto que (nesse caso de Van Gogh) tomou a forma de um sol que queimou o próprio artista.
 
Mas assim, se oferecendo em sacrifício, Van Gogh nos ensionou a olhar o sol "olhos nos olhos" sem ficar cego. (A cegueira de toda visão: Bhagavad Gita). E assim a arte aparece como sendo uma superconsciência que paradoxalmente pode levar à loucura. Porque, se se pode tornar louco por falta de consciência, também se pode tornar louco por excesso de consciência. Os artistas, os poetas sobretudo, porque são consciências em estado de turgescência ou de abertura de eclosão como uma rosa, e por isso mesmo se tornam mais frágeis. Ser consciente é ser mais frágil.

E é dessa fragilidade que surge a obra de arte.

Não é por acaso que o símbolo da consciência é a rosa ou lótus, flores belas e efêmeras (como todas as flores).

Gilbert Chaudanne
Nessa palestra, não tomo partido cortante, mas mostro como a arte é ambivalente: ela pode ser tanto São Jorge como o Dragão. Não! Na arte, não é sempre São Jorge que vence o Dragão.

22 de setembro 
Escola de Teatro, Dança e Música FAFI
                
Av. Jerônimo Monteiro, 656
Centro
Vitória ES

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